É engraçado como as coisas são. No voo (agora sem acento né?) de Campinas até Curitiba, o cara que sentou ao meu lado puxou papo. Não sou muito bom em bater papo com desconhecidos, aliás, acho que nem com conhecidos, sei lá qual é. Bom, engraçadamente a conversa fluiu, ele me falou que era de Castro, uma cidadezinha ainda menor que Ponta Grossa, mas o importante não foi a conversa em si, mas a atitude, não a dele, mas a minha. Percebi que enquanto conversava com o camarada, meu sotaque ia invariavelmente voltando ao sotaque sulista.
O sotaque sullista tem uma música, que só quem é daqui e passou muito tempo fora fica feliz em ouvir, porque é um sotaque sulista, e sotaques sulistas são sulistas em qualquer lugar do mundo. O sotaque do sul da frança é melódico, o sotaque do sul dos EUA, é doce, e por ai vai, em qualquer lugar do mundo, os sulistas serão caipiras. E o sotaque nos entrega. É um r puxado, uns verbos inexistentes e totalmente dispensáveis ao fim das orações. Mas é melodico.
E o sotaque foi se consolidando conforme eu ia chegando mais perto de Ponta Grossa, e quando cheguei em Curitiba, na rodoviária, já estava com todos os erres no lugar e embarcando no portão Ê e não no portão É. Faz diferença.
Quando desci em Curitiba, garoava. Garoa é um fenômeno conhecido dos baianos e nordestinos em geral por chuva ou inverno. Bom, cheguei aqui na estação chamada inverno, em Curitiba estava uns 6 graus com sensação térmica, por causa do vento e garoa de uns 2 eu acho. Frio de rachar os ossos. Desci no aeroporto de manhazinha, umas 6 eu acho. Não peguei ônibus ou táxi diretamente para a rodoviária. dei uma volta por ali mesmo, fui até a saída, estava vazio, fui até o fim do embarque, acendi um cigarro, e sorri. Tremendo de frio, sorri. Não um riso alegre ou uma gargalhada, foi um riso frouxo, uma satisfação em sentir frio.
Nesse tempo em que não estive aqui, eu estive lá, porque por definição física, meu corpo tinha que estar em algum lugar. Já por definição filosófica, minha mente vagava por inúmeors lugares.
Enquanto estive por lá, ouvi histórias, participei de histórias, mudei histórias e escrevi histórias.
Nem sempre essas histórias foram com final feliz, a bem da verdade, acho que nenhuma das histórias (ouvidas, participadas, mudadas e escritas) tiveram final. Elas nunca acabaram, passei pela vida de muitas pessoas, algumas vezes passei destrutivamente, em outras, me destrui, e em todas, meu coração ficou marcado.
Chegar em casa é ótimo, apesar do medo das coisas estarem diferentes e eu não conseguir me encaixar nessa diferença, as coisas foram boas, e continuam bem.
Nunca soube direito o que me levou lá. Sempre tive algo pra justificar, mas nunca consegui direito.
A dor sempre foi forte, e não vou falar na dor de novo. Porque só vale a pena se tiver como resolver a dor. Para dor de cabeça, dorflex, para dor nas articulações, um bom antiinflamatório, para dor de estomago, um sal de frutas. Mas para dor de alma? Tem não. Pode-se dizer que para esquecer alguem, outro alguem. Pode-se dizer que para esquecer a morte, apenas a vida. Todos esses remédios são placebos, funcionam para alguns e para outros não fazem efeito nenhum.
Então não vou falar da dor, porque não tem cura, não tem jeito de refazer o que foi feito, ou de desfazer o que foi feito.
Arrependimento é uma palavra que expressa de uma forma frouxa o que sinto. Saudade não diz muita coisa sobre essa dor.
O duro é olhar no rosto da pequena e ver o brilho dos olhos que eu nunca esqueci. É ver a personalidade dela se formar exatamente igual.
Mas vou levando, fé cega no presente. O que quero fazer vai ser feito no agora, não vou esperar o futuro. Não vou me enganar. O tempo dos doces passou.
Vou querer o que sempre quis. Paz. só. Se quiser vir comigo, venha.